A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória, auto-imune e desmielinizante do sistema nervoso central, que ocorre mais comumente em sua forma de surto e remissão, ou seja, com períodos de atividade da doença e períodos de remissão dos sintomas. São nos períodos de surto e atividade de doença que ocorrem as manifestações típicas decorrentes da inflamação no sistema nervoso central. Já nos períodos de remissão o paciente costuma estar sem nenhum sintoma ou sinal clínico da doença.
Os sintomas podem ser múltiplos, variando desde o surgimento de fraqueza ou perda de sensibilidade/formigamento nos braços ou pernas até sintomas de desequilíbrio intenso ou perda visual. Esta variedade de sintomas está ligada diretamente ao local do cérebro ou medula espinhal que está inflamada. Infelizmente muitos casos demoram para serem diagnosticados visto que os sintomas inicialmente melhoram espontaneamente dentro de 4-6 semanas, sendo pouco valorizados pelos pais da criança.
A doença é considerada autoimune, pois depende diretamente do sistema imunológico (de defesa) do organismo do paciente, o qual por motivos ainda não totalmente esclarecidos (fatores ambientais e genéticos) acaba por reconhecer, erroneamente, parte da substância branca do sistema nervoso central (mielina) como um agente invasor, e com isso realiza uma resposta de combate ao próprio organismo, causando inflamação.
A EM é mais conhecida como sendo uma doença de adultos jovens. Isso porque a maioria dos pacientes é diagnosticado entre 20 e 40 anos.
Apesar disso, devido aos avanços sobre o diagnóstico e tratamento da doença em sua forma infantil, a cada ano novos casos são diagnosticados em crianças e adolescentes.
Estima-se que cerca de 5% do total de casos de Esclerose múltipla tem seu início antes dos 18anos e menos de 1% ocorram em menores de 10 anos. Dessa forma, trata-se de uma doença rara, ainda pouco conhecida entre a população geral e até mesmo entre especialistas da neurologia.
Os critérios aceitos internacionalmente para o diagnóstico da
Esclerose Múltipla em crianças a partir de 11anos atualmente são
semelhantes aos critérios utilizados em adultos (critério de
McDonald 2017). Logo, se o paciente apresentar uma história clínica típica da doença, os critérios poderão ser aplicados.
É necessário, portanto, a comprovação de disseminação da doença tanto no tempo (ou seja, mais de 1 episódio de surto clínico da doença), quanto entre os espaços do sistema nervoso central (mais de um local deve estar acometido).
Exames complementares como a ressonância magnética do crânio e a coleta do líquido cefalo-raquidiano (LCR) são muito importantes e irão auxiliar na confirmação da doença.
Já para crianças menores de 11anos, o uso dos critérios de Mcdonald não são tão assertivo, pois além da doença ser menos comum nessa faixa etária, existem outras doenças do sistema nervoso central que podem apresentar sintomas semelhantes, necessitando avaliação criteriosa do especialista.
Embora ainda exista muito a ser estudado a respeito da patogênese da esclerose múltipla, alguns fatores de risco parecem estar envolvidos no surgimento da doença, como por exemplo, exposição à fumaça do tabaco e poluentes do ar, Infecção pelo vírus Epstein-Barr (EBV), Obesidade, baixa exposição solar e níveis baixos de vitamina D, Exposição a herbicidas e raticidas.
Apesar do grande avanço no tratamento da esclerose múltipla em adultos nos últimos 30 anos, atualmente ainda existem poucos estudos clínicos de qualidade que comprovem a eficácia desses fármacos para uso específico em crianças e adolescentes. Por diversos motivos, entre eles
a menor proporção de doentes na faixa etária pediátrica, alguns dos medicamentos tradicionalmente prescritos para adultos não conseguiram comprovar sua eficácia nos estudos específicos em pacientes menores de 18 anos e por isso não foram liberados por parte das agências reguladoras internacionais.
No Brasil, apenas os fármacos injetáveis chamados de plataforma (beta-interferonas e acetato de glatiramer) e o fármaco via oral
fingolimode são liberados para uso nas formas infantis da esclerose múltipla.
É importante lembrar que o diagnóstico e início precoce do tratamento são fundamentais para melhor controle da doença e prevenção de lesões irreversíveis ao sistema nervoso central.
O tratamento portanto, sempre deverá será avaliado de forma individual pelo médico que o acompanha.
Apesar de muitas vezes negligenciado pelos pacientes, o tratamento não farmacológico é muito importante para auxiliar no controle da doença e necessariamente exigirá a adoção de hábitos de vida saudáveis (alimentação equilibrada, prática de atividade física e esportes de forma regular, sono adequado, redução de peso em crianças com sobrepeso e obesidade, entre outros).
É sempre importante lembrar que não somente as crianças, mas também os pais podem necessitar de suporte psicólogo para lidar com os desafios que surgirão decorrente do diagnóstico de uma doença crônica.
Apesar de pouco conhecida, a doença possui tratamento e pode ser controlada se o paciente for acompanhado de forma adequada, podendo a criança ter uma vida saudável durante toda sua infância.
Se houver suspeita de esclerose múltipla em uma criança que você conheça, procure um neurologista infantil para avaliação e
diagnóstico adequados.
Um diagnóstico precoce e um tratamento adequado podem ajudar a melhorar o prognóstico e a qualidade de vida das crianças afetadas
pela doença.
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